Thursday, November 30, 2006

Injúrias pautadas

É engraçado como os jargões profissionais terminam tomando conta do nosso vocabulário diário, mesmo que eles sejam extremamente sem graça.
Os jornalísticos todo mundo usa, acho que porque essa minha futura profissão é muito sem moral mesmo! Veja só, os médicos começam com aquela história de processo endêmico, os economistas com as variações de não sei quantas naturezas e os advogados com as diferenças entre calúnia, difamação e injúria, como se adiantasse ter tanto nome diferente pra a impunidade continuar reinando independentemente das diferenças conceituais.
Mas os jargões empresariais são os que mais me chamam a atenção. Tanto em loja de roupa, boutique de luxo, quanto o dono de uma empresa do que quer que seja, falam do mesmo jeito. - Pois é, eu to precisando encontrar uma profissional assim, porque o assado que eu encontrei outro dia estava muito pouco em conta, ai to procurando algo mais em conta, sabe? – São os melhores!
Mas espero que os jargões não se transformem em hábitos de vida, afinal, as pessoas não são em conta, as contas é que não podem arcar com os gastos que elas trazem.
E as palavras pauta e release representam algo tão sem graça que eu ainda não entendi porque os não jornalistas gostam tanto de dizer. Vai entender, né?

Wednesday, November 29, 2006

E haja catinga

Hoje eu li um artigo de um jornalista anti-ético e arrogante sobre o Recife. Ta, jornalista anti-ético e arrogante é quase uma redundância, mas eu ainda posso sonhar em ser uma jornalista ética e humilde, então que assim seja.
Tentar argumentar que o Recife é um lugar seguro e tranqüilo ou que a questão dos tubarões da praia de Boa Viagem é pura balela, seria demais. Mas também é demais ler os comentários agressivos e arrogantes dessa cara.
“Hoje, e mais do que nunca, algumas localidades da capital pernambucana fazem jus ao próprio nome, como os Aflitos, Queimados e Afogados. Em breve, novos bairros devem surgir, como 'assaltados', 'esfaqueados', 'seqüestrados' e 'desesperados'. Ali pertinho, o clima também é tenso. Olinda, a capital brasileira da cultura, é, na verdade, uma cidade cheia de hippie, maloqueiro e artista plástico, três categorias que se entendem muito bem.” Agora me digam se eu vou ler um imbecil chamar artista plástico de maconheiro, como se ele nunca tivesse fumado maconha e como se eu tivesse que diminuir um artista porque ele fuma maconha. Se esse imbecil não aprecia arte o problema é dele, mas são raros os jornalistas que nunca fumaram maconha e do jeito que ele escreve, acho que ele deviria ser o maconheiro mor da turminha cult dele.
Mas a imbecilidade não pára por ai: “Outro programa inesquecível pode acontecer nas águas plácidas e tranqüilas de Boa Viagem. Ultimamente, tem tubarão atacando banhista com água no joelho. Eu mesmo vi a barbatana ameaçadora de vários. Só falta o cidadão ser mordido quando estiver na areia sentado numa daquelas cadeiras de banho, sendo surpreendido com o pulo do bicho com aquela boca cheia de dentes. Aliás, uma boa solução para moralizar a situação em Ponta Negra seria importar os bichinhos do Recife e treiná-los para arrancar os possuídos de gringo safado. A coisa vai ficar linda quando a maré encher, despejando embrulhos europeus entre volumes de sargaço e pêlos pubianos.”Pois então, se em Natal a situação da praia urbana deles ta muito imoral pra uma pessoa tão moralista como ele, melhor mesmo que ele esteja nas areias de Boa Viagem no dia que os nossos tubarões resolverem invadir a praia como um todo.
Mas ele termina poeticamente, como era de se esperar: “Os ares do Recife são encantadores. Ah, aquela catinga...” Como se esse texto dele não fedesse mais do que todos os canais da nossa cidade juntos!

Monday, November 27, 2006

Sem úlcera vale a pena

Falta de expressividade e falta de angustia a flor da pele. Que angustia a flor da pele essa mistura me dá!
Nada mais horrível do que uma história contada sem emoção. Nada mais horrível do que a tranqüilidade irresponsável da não angustia, da não ansiedade.
Ser ansioso sempre que necessário, melhor a ânsia de fazer certo, do que a tranqüilidade do não fazer na hora exata.
Mas que os ansiosos não tenham úlcera, senão minha tese perde todo o sentido, não é mesmo?

Thursday, November 23, 2006

Tinha que ser um Dubeux

Pobre coitado do assassino de Rafael Dubeux. Não que eu esteja fazendo uma apologia ao crime, ou à violência, ou a algo do gênero. Minha vontade é apenas de constatar o azar que esse jovem teve em assaltar e terminar matando um Dubeux, e não um mero garoto de classe média. Por que não era um estudante de direito, de uma faculdade particular do Recife, que tivesse dinheiro no caixa eletrônico, mas que se chamasse da Silva, dos Santos, ou dos Anjos. Era um Dubeux. Pois bem, agora a orla da cidade do Recife vai ser realmente monitorada. O policiamento vai ser aumentado. A segurança vai ser maior. E os pobres coitados dos assassinos dos das silva e dos santos, vão continuar matando. Mas a família Dubeux vai ter feito justiça. E o cartão postal do Recife, vai voltar a ser um lugar seguro.

Tuesday, November 21, 2006

Melhor seria a saudade

Tem pessoas que a gente passa anos sem ver e isso não faz a menor diferença nas nossas vidas.
Tem pessoas que a gente não pode passar mais de um dia sem pelo menos ouvir a voz porque parece uma eternidade dez minutos longe delas.
Tem pessoas que já foram as dos dez minutos, e hoje são as da indiferença de tempo.
Tem pessoas que a gente pode até passar anos sem ver, mas que sempre vão deixar aquele vazio de saudade.
Tem pessoas que são a própria saudade.
E tem pessoas que a gente vai encontrar no Hiper e vai ver que está casada, com filhos, com os cabelos tingidos e com a pele envelhecida. Mas eu espero, sinceramente, que as minhas pessoas dos dez minutos de hoje possam até chegar a ser a saudade, mas nunca cheguem a ser as pessoas dos alguns anos depois, no supermercado...

Monday, November 20, 2006

“Sonhos semeando mundo real”

Por que eu não lembro mais dos sonhos bons sempre? Todo mundo tem sua fase de pesadelos. Geralmente as crianças entre oito e dez anos vivem tendo pesadelos. Eu acho que é a fase em que as pessoas começam a sentir o peso do medo real, de que coisas ruins existem e podem afetar as nossas vidas de verdade.
Eu não faço psicologia, mas bem que gostaria de estudar melhor sobre a ciência dos sonhos.
Nunca passei da minha fase de pesadelos. Eles só mudaram de feições, de personagens, mas eles persistiram sempre! Acho que o meu medo real foi amadurecendo e virando meu companheiro eterno e mais fiel. Meu deus, que deprimente esta frase. Mas que verdadeira ela é também.
“Sonhos semeando mundo real”, e que meu mundo real vire mais corajoso. Porque senão sempre vou lembrar mais dos pesadelos. E os sonhos bons vão ser sempre como fotos desfocadas, mas não por efeito, por mera incompetência do fotógrafo.

Sunday, November 19, 2006

Yoga de sorriso

Rir é a síntese de tudo de bom da vida.
Tenho certeza que quando os meus pais não estiverem mais aqui a coisa que mais lembrarei deles será o sorriso único de cada um. O rosto todo vermelho, o barulho inigualável, as pernas subindo e descendo: vê meu pai rindo é a cena mais maravilhosa do mundo. Mainha eu nem comento. A barriga dela sobe e desce e o olhar fica envergonhado. É um sorriso tímido que no meio do silêncio solta a respiração alegre. Eu não sei como vai ser viver sem esses sorrisos.
Eu mesma não sei viver sem o meu sorriso. Quando ele é verdadeiro, me faz levitar. Acho que nem a yoga me deixou nunca tão relaxada quanto a minha dose de sorriso real.
Ai como eu detesto quando me mandam sorrir baixo. Sabe quando você está chegando à solução de um problema e alguém interrompe? Ou quando você está vendo a cena explicativa daquele filme de suspense cheio de reviravoltas e o aparelho de dvd não quer mais ler o cd? Pois é, quando interrompem meu sorriso a sensação é muito pior!
Como seria maravilhoso ter o prazer de devolver o anti-prazer que todos os “repreendedores” de sorriso me causam! Espero que um dia eu consiga. Mas, “mientras tanto”, vou continuar rindo ainda mais alto, quanto mais vezes me repreenderem. E que a liberdade de sorrisos vire lei. E que os sorrisos mais sinceros virem exemplo.

Thursday, November 16, 2006

Que gostinho!

Ai que gostinho de quero mais! Que vontade de duas bolas de sorvete (uma de menta com chocolate e outra de flocos) com muita calda e raspinha de amendoim. De torta de limão e holandesa no mesmo prato. De cafezinho expresso com bombom de hortelã. De doce de leite de vovó Rita. De bolo de rolo da casa dos frios.
Que vontade de filme de Almodóvar e livro de Allende. De conversas intermináveis no calçadão com Nick. De horas no telefone fazendo análise com Luquinhas. De tardes inteiras com Paulinha e almoços diários com Lucy. De finais de semana sem graça, mas com a graça eterna de Marcinho. Dos buffets da casa de Câmis e das fofocas nas idas e voltas da TVU com Jb. Das ambigüidades absurdas de Tiaguinho e dos barzinhos com Maguinha, Dudona e Aninha. Das risadas com a leveza de Bruninha e as saídas com Vivinha e Brunoca.
Mas que saudade de Natália Dornelas. Ela deixa aquele vazio que prova que nem tudo na vida é insubstituível. Vixe Nata, gostinho de tu aqui... E rápido!

O esconde-esconde continua

Escrever é como se esconder atrás das palavras. Mas se escondendo atrás delas é que a pessoa se encontra tantas e tantas vezes.
Encarar você mesmo é bem melhor dessa maneira. Se achar se escondendo... Tão contraditório quanto a minha pessoa.
Nunca gostei de brincar de esconde-esconde. Eu ficava tanto tempo escondida... O medo de ser pega era maior do que a vontade de adrenalina.
Eu sou aquela pessoa que só vive o desafio se for a última opção.
Pois bem, agora o esconde-esconde continua. Mas será que um dia eu vou sair rápido do refúgio e buscar ao invés de esperar?

Tuesday, November 14, 2006

Gente

Tem gente que só a gente sabe o quanto a gente se importa e o quão importante essa “gente” é pra gente.
Eu preciso acreditar mais em mim mesma, porque só assim as pessoas vão fazer o mesmo.
Mas tem gente, que mesmo que a gente não acredite na gente, acredita na gente mesmo assim.
E como é bom saber que tem gente que acredita na gente!
Tem gente que a gente se sente culpado por nunca conseguir expressar o quanto a gente quer o bem dessa “gente” mais do que tudo.
Tem gente que nem a gente sabe como consegue ser tão gente assim.
Mas, ainda bem que tem gente que ainda é gente de verdade.
E que essa “gente” continue sempre tão gente assim!

15 minutos

A programação televisiva espanhola contava com 15 minutos de publicidade. Se os três minutos de comerciais são uma verdadeira eternidade quando o controle remoto não está à mão, imagina o sofrimento dos 15 minutos!
Mas aí é que ta, as publicidades eram bem melhores e mais interessantes do que os programas de auditório e de fofoca de lá. Eram tão melhores, que eu mudava de canal exatamente depois que acabavam os comerciais.
Entre tantas, tinha uma propaganda que eu achava o máximo. Era mais ou menos assim: um menino bem tabacudo, daqueles nerds de escola americana que passa em filme teenager. Um outro tabacudo, jogador de futebol, com toda a goga de pegador. O tabacudo mor passa pelo nerd e derruba os livros dele. É claro que o problema não é o fato em si, é a humilhação e tudo o que isso representa num corredor de colégio americano. Um outro carinha, bem gatinho, malhadinho, lourinho (quem me conhece sabe que eu não gosto de louro). O mocinho da história vai lá e ajuda o nerd a arrumar as coisas dele. O final era o seguinte: “carácter, pasala!”
Ta bom, ta bom, eu sei que é piegas e que é simplória a propaganda. Mas é isso mesmo que eu acho. Se você tem caráter, tenha em todas as atitudes da sua vida. Por mais que ajudar o nerd não vá ser a melhor alternativa pra não queimar seu filme. Mas seria tão mais fácil se prova de caráter fosse como em filme americano, né?

Friday, November 10, 2006

Não tem preço

Conhecer é tão relativo! Eu me impressiono com a minha capacidade de conhecer sem saber que conheço. Mas e quando a gente conhece e não quer conhecer? Tão ruim estar ciente do que não gostaria que fosse. Tão estranho tentar ignorar o ignorável.
Uma vez eu escutei uma coisa que me extasiou. “Eliza, impagável é essa sua expressão”. Menino, senti que minha expressão era mais cara do que a propaganda fantástica do mastercard. “Não sei o quê mais lá não tem preço, para todas as outras coisas existe mastercard”. Bem, melhor não ter preço, né?
Mas, voltando ao raciocínio inicial, de que adianta tentar ignorar, se não consigo demonstrar que ignoro? Melhor parar de tentar ser o que não sou e deixar ser. Hum, mas ainda bem que existe mastercad. Vai que não dá certo tentar ser eu mesma, isso não tem preço, mas para todas as outras coisas...!

Thursday, November 09, 2006

Pequena demais

“Mas rapaz, a grande mídia é muita pequena”. Um bando de estudante de jornalismo junto, com estágio mal remunerado e muita aula teórica na cabeça só dá nisso. Mas, que bom seria ser aficionada pela grande mídia! Detesto ler jornal, meu pai diz que nunca vou poder ser jornalista detestando ler jornal. Eu leio, mas eu não gosto. É maior do que eu, suja minha mão e... suja minha mente. Tudo na vida é produzido, com o jornalismo não poderia ser diferente. Mas, é muito ruim sentir o quão produzidas são as coisas e o quão impossível é ser natural. Nunca quero entender de cinema, porque quero continuar vendo os filmes e me emocionando, ou me assustando, ou me irritando com as cenas. Mas, como assistir ao telejornal sem prestar atenção no formato da matéria, se o off ficou legal, se as sonoras estão boas? Meu deus, melhor seria ter uma paixão e me acabar por ela. O problema é exatamente essa falta de paixão. Assim, mas deve ser porque a grande mídia é pequena demais...

Tuesday, November 07, 2006

A medida certa

Existem coisas inacabadas, e que vão ficar inacabadas mesmo, não tem como ser diferente. Mas existem coisas que precisam ser resolvidas até o último momento, até o último centímetro.
Eu queria saber quando deixar por acabar e quando ir até o fim. Eu queria saber a medida certa de todas as coisas, pelo menos das que me rodeiam.
Mas eu acho que viver é isso, tentar a achar a medida certa de todas as coisas. Mas fique bem claro, TENTAR.

Saturday, November 04, 2006

Para não tornar mistério

Os mistérios são sempre tão deliciosos!
Todas as histórias repletas de suspense, dúvidas e evidências chamam muito mais atenção do que as meras narrativas descritivas.
Todas as pessoas cheias de segredos e coisas que não podem ser ditas atraem mais nossas atenção do que as que dizem tudo e deixam tudo muito claro.
Aprender a falar apenas o necessário, nunca substituir a metáfora pela tradução literal.
Aprender a ser interessante, antes que a falta de interesse vire um mistério.

Wednesday, November 01, 2006

Não + Nada

O método é o meu companheiro mais leal. Sempre fui metódica e acho que sempre assim serei. Não sei não dividir em etapas as minhas obrigações e ir liquidando-as uma a uma. Mas e quando uma empaca? E quando tudo parece empacar?
Eu me desestruturo, eu simplesmente fico sem ação. Assim é como eu me sinto nessa vida de futura, quem sabe jornalista, quem sabe professora, quem sabe nonada.
Esse negócio de nonada é o máximo. Nonada significa quase nada, nadica de nada, é uma junção entre o não e o nada: não + nada = nonada. Meu deus, genial! Mas, e se eu me tornar uma nonada total? Será que os nonadas têm método? Será que existe método para o não nada? Que medo dos nonadas!