Wednesday, July 24, 2013

Culpa do salto


A conversa era sobre como o salto alto muda a forma de a mulher encarar o mundo: “até gostaria de andar sem salto, mas com ele fico muito mais segura”, explicou uma conhecida, no máximo da sua auto-suficiência.

Engraçada essa história de como encarar o mundo. Tão fácil falar, né? Mas, com o passar dos anos, percebo que minhas lentes mudaram bastante. A noção da vulnerabilidade da vida e a experiência profissional (não é tão grande, mas já começa a se desenhar) mudam a gente, viu? Certo dia escutei: “Eliza, você é TÃO especial, sabia?” Assim, do nada, na fila de espera do salão de beleza. A recepcionista me fez ganhar o dia e, depois, refletir. Especial. Será? Pelo menos aprendi a respeitar o outro, independentemente de quão diferente de mim ele seja, independentemente do meu preconceito.

Nunca usei floral, tentei yoga e pilates, mas só o ballet clássico foi capaz de domar a minha ansiedade. Fiz terapia e, sim, recebi alta. Os amigos até dizem que foi porque o terapeuta não aguentava mais me ouvir falar. Os amigos de verdade percebem o motivo: sou tão imperfeita quanto qualquer outro humano, mas, pelo menos por enquanto, aprendi a lidar com minhas imperfeições. Mesmo sem o ballet clássico e sem a terapia, venho lidando com minha ansiedade.


Essa semana, vivi um novo desafio e, ao invés do sentimento que tinha na iminência de uma realidade desconhecida, o coração disparou, mas a mente ficou tranquila. É verdade, eu estava de salto alto. É verdade, ele deve ter ajudado.

Thursday, January 17, 2013

Nossa classe média



Eu adorei o filme “O Som ao Redor”, de Kleber Mendoça. Não sou cinéfila, não li nada sobre a película e fui assistir ao longa pelo simples fato de estar “dando o que falar”. Ainda bem!

O filme é o retrato da classe média recifense. E é, mais ainda, o retrato do nosso descaso com o que vira cotidiano. Estamos tão acostumados com olhar apenas para os nossos umbigos que perceber o óbvio, quando está dentro das nossas ruas e das nossas salas, nos parece impossível. Adorei a forma como a película foi construída, como se nada estivesse muito conectado para, no final, a “bomba” que ia assustar o cachorro terminar ocultando o que estava tão exposto, que ficou oculto.

Amei "O Som ao redor"!

Wednesday, January 16, 2013

Meus "Gonzagões"


Outro dia, durante o Programa do Faustão, Francisco Coco disse que todo mundo tinha uma história admirável de superação para contar. Não gosto do programa do Faustão, nem acho Francisco Coco o melhor ator do país, mas fiquei com isso na cabeça. Ontem, comecei a assistir a série de Luiz Gonzaga e ai fiquei com esse pensamento martelando na cabeça.

O que faz uma pessoa ter destaque? E depois de obtido o sucesso, o que faz com que ela mantenha a admiração alheia por mais de uma geração? 

Luiz Gonzaga era incrível, mas era confuso, era impulsivo, tinha uma estranha admiração por Lampião e pela vida militar. Enfim, Gonzagão era o máximo, e era humano. Como ele, mil sertanejos fortes conseguiram superar a pobreza, a ignorância, a falta de oportunidades, a falta de dignidade, a falta de respeito e venceram. Essas pessoas se mantêm anônimas, ele será, para sempre, Gonzagão.

Meus pais são os “Gonzagões” mais admiráveis que conheço. Superaram tudo que ele também superou (meu pai ainda superou uma família desestruturada pela constante ausência do pai) e conseguiram traçar uma carreira profissional de sucesso, construir uma família estruturada e dar dignidade para muita gente. Eles serão, para sempre, meus mais admiráveis “Gonzagões”.