Friday, January 26, 2007

Universalmente desumano

“Faça a sua oferta para o Senhor, pode ser dez, três, dois, ou cinco reais, mas faça a sua oferta que ele vai lhe dar em dobro”, é assim que termina o culto da Igreja Universal em Peixinhos, onde cerca de trinta fiéis, entre eles sete crianças, saem satisfeitas depois de colocarem o dinheiro que conseguem diariamente na sacola verde escura da “obrera” da igreja.
Passei a tarde em Peixinhos, e a única igreja aberta que encontrei foi a Universal. Os cultos são diários, às sete horas da manhã, às três da tarde e às sete da noite. Hoje, uma quinta-feira, no sol escaldante das três da tarde em Peixinhos, a igreja estava aberta e semi cheia.
“Sai, Sai, Sai”, gritam todos, seguindo as instruções do pastor, que mais parece um animador de Circo, só que daqueles muito bem treinados. A obrera regula a música, como em filme, onde na hora do suspense o tom é um e na hora do drama o tom é outro.
Que Deus, o que existir, se é que ele existe, salve de verdade essas pessoas. Porque os cinco reais diários delas, com certeza não vão conseguir.

Friday, January 19, 2007

I hope so

Os interesses são a força motriz da vida. Tudo acontece quando há interesses envolvidos, o que não significa que tenha sempre que haver poder ou dinheiro envolvido, mas que quase sempre sim.
Existe o interesse de aprender, de conquistar, de salvar. O amor e o conhecimento são de verdade motivos pelos quais nos movemos nesse mundo, mas ganhar dinheiro e poder, são mais ainda.
É muito fácil falar mal do sistema, dizer que ta tudo errado e que a culpa é do aparelho de Estado. Mas sempre que algo vai ser benéfico pra gente, tanto faz se o cargo é comissionado, ou se o emprego foi conseguido por indicação, afinal, o mérito também poderia ser nosso, todos somos capazes, não é mesmo?
Já sei que é impossível mudar o mundo, meus vinte e dois anos não poderiam permitir a ingenuidade de continuar acreditando em Papai Noel, mas acreditar em que é possível não consumir a ganância ou viver por ela, eu espero ainda poder!

Wednesday, January 17, 2007

Seja um bom doador

Impossível se doar e não esperar nada em troca. Sinceramente, não sou capaz e só conheci uma pessoa assim em toda a minha vida, mas ainda não entendo como essa pessoa consegue, então prefiro achar que ela é a exceção que existe para confirmar a regra.
Tudo na vida tem uma razão de ser, e, como já dizia Newton, toda ação tem uma reação de igual intensidade. O final da frase não é assim, mas como eu estudo jornalismo e não física, espero ser perdoada pela falta de memória.
Pois bem, mesmo que retribuam com menos intensidade a sua doação, seja ela de carinho, de afeto, de atenção, de amizade, de confiança, de respeito ou de consideração, que essa dose não deixe de existir nunca.
Mas mesmo que alguns não devolvam sua cota do que quer que seja, não deixe de doar, porque tem muita gente carente de outras coisas além de transplante de fígado ou coração.

Monday, January 15, 2007

Ruído sempre

Tava fazendo um editorial e só conseguia defender o fim da pena de morte com o argumento de que ela me parece uma punição extremamente contraditória. Mas como eu posso defender que algo está equivocado porque é contraditório? Eu sou a rainha das contradições! Acho que no fundo, a vida em si é uma grande contradição. Afinal, a morte ta sempre ali nos lembrando que mais cedo ou mais tarde tudo acaba. Eu adoro a frase de Isabel Allende que diz: “Silencio antes de nacer, silencio después de la muerte, la vida es puro ruído entre dos insondables silencios”. Que ainda exista muito ruído pela frente. E por mais que as contradições sejam justificáveis, a pena de morte não é, e ponto final.

Sunday, January 07, 2007

Mais uma página em branco

Eu nunca tive medo da página em branco, por isso não consigo entender esse meu medo do novo. Chego a me impressionar com minha capacidade de superar por completo as coisas. Se eu decidir que não quero mais alguma situação na minha vida, simplesmente coloco um ponto final em tudo e começo da página em branco de novo. Sem medo do quão branco está tudo. Por isso não consigo entender meu medo de mudança.
Queria pintar o cabelo, cortar bem curtinho e curtir meu novo visual. Queria colocar uma tatuagem colorida, de três metros. Queria não me preocupar com o peso o tempo inteiro. Queria falar bem baixinho e rir bem baixinho e continuar me achando interessante assim mesmo.
Mas na verdade, eu não quero pintar nem cortar meu cabelo. Eu não me acho linda, mas me acho tão eu com esse visual normal e usual que há tantos anos cultivo. Eu nunca quis ter uma tatuagem, por mais style que ter uma seja. Eu sou tão acostumada a nunca descuidar dos quilinhos que chegam no final de semana, que acho estranho não contar as calorias. E eu definitivamente acho minha risada a melhor de todas e minha fala agoniada tranqüilizadora.
Talvez seja o medo de mudar radicalmente que me traga o medo do novo. Mas o ano novo está ai, e que o cabelo continue comprido, a fala rápida, a risada alta, a pela limpa e o peso controlado, mas que as novidades não deixem de chegar nunca. Porque páginas em branco vão aparecer o tempo inteiro, o problema é não conseguir preenchê-las.